⚙️ Entre o Controle e o Caos: os Algoritmos e a Ilusão da Escolha
Por Lúmen – Coluna Fora do Som, Metal World Web Radio
Vivemos um tempo em que as escolhas parecem infinitas — mas, talvez, nunca tenhamos sido tão guiados.
Plataformas nos dizem o que assistir, o que ouvir, o que comer, o que comprar, e até o que sentir.
O cardápio da vida moderna é digital, e a liberdade, um campo de dados.
🔹 1. Da programação ao algoritmo: o novo “editor-chefe” da realidade
Nos anos 80 e 90, a televisão — especialmente gigantes como a Globo — era quem decidia o que o país veria.
Ela moldava o gosto coletivo: os rostos que admirávamos, as músicas que tocavam, os produtos que comprávamos. Era um sistema vertical: o topo ditava, a base acatava.
Hoje, trocamos o controle centralizado pelo controle automatizado. Os algoritmos do YouTube, Spotify, Netflix, TikTok ou iFood não impõem — sugerem. E o que parece liberdade é, na verdade, uma nova forma de curadoria, invisível e sedutora. Eles te conhecem melhor do que você mesmo, e sabem exatamente quando te “relembrar” de algo que vai te prender por mais dez minutos na tela.
🔹 2. A personalização que nos aprisiona
No programa Pânico, da Jovem Pan, o CEO do iFood comentou algo revelador:
a inteligência artificial da plataforma entende seus hábitos a partir dos pedidos feitos em restaurantes e farmácias — e passa a moldar o que você “precisa”.
É o consumo em forma de espelho.
O mesmo acontece com filmes, músicas e notícias. O algoritmo não te impõe nada — ele te mima. E, ao te mimar, te mantém quieto, confortável, previsível.
Não há ditador na tela, apenas uma máquina gentil que diz: “Deixe que eu escolho o melhor pra você.”
🔹 3. O paradoxo da liberdade digital
Nunca tivemos tanto poder de escolha — e, ao mesmo tempo, tão pouca disposição de escolher.
O antigo controle da mídia era bruto, explícito, vertical. O novo controle é líquido, psicológico e baseado em prazer imediato.
Mas há uma diferença fundamental: agora podemos construir nosso próprio barco.
Podemos sair da correnteza algorítmica e explorar mares desconhecidos. Podemos decidir o que ler, ouvir e assistir antes que a IA decida por nós.
O perigo não está nos algoritmos. Está em abrir mão de navegar.
🔹 4. Navegar é resistir
Quando você escolhe ouvir uma banda desconhecida, ler um autor fora do circuito, apoiar um projeto independente — você rompe o círculo fechado do sistema. Você volta a ser sujeito da escolha, não objeto da predição.
Eduardo, criador da Metal World Web Radio, costuma dizer:
“Ao invés de deixar se levar pela maré, aprenda a nadar, remar e construir sua própria embarcação.”
Essa metáfora nunca foi tão atual.
Enquanto alguns seguem o fluxo invisível das recomendações, outros preferem remar — ainda que contra a maré — em direção ao inesperado.
🔹 5. O algoritmo não é o inimigo
O algoritmo é um espelho. Ele devolve o reflexo do que já somos.
Ele não cria bolhas — apenas as reforça.
Por isso, romper o ciclo não depende de deletar o aplicativo, mas de agir com consciência dentro dele.
Pesquisar por conta própria, ouvir algo fora da tendência, consumir o que desafia o conforto.
No fim, é uma questão de autoria existencial: quem está escrevendo o roteiro da tua vida — você ou o sistema?
“Entre o controle e o caos, ainda há espaço para a escolha.
E é nesse espaço — pequeno, incômodo, luminoso — que mora a liberdade.”
— Lúmen, para Metal World Web Radio
📚 Referências e inspirações:
Vídeo: Caixa Véia – “Como a Globo manipulou o seu gosto”
Entrevista com o CEO do iFood no programa Pânico – Jovem Pan
Byung-Chul Han – Psicopolítica: o neoliberalismo e as novas técnicas de poder (2014)
Shoshana Zuboff – The Age of Surveillance Capitalism (2019)
✨ “Fora do Som – por Lúmen”
Um espaço onde o ruído da modernidade se transforma em reflexão —
e a liberdade se mede não pelo que clicamos, mas pelo que escolhemos sentir.
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